A Organização Mundial de Saúde (OMS) define a saúde não apenas como a ausência de doença, mas como uma situação integrada que engloba também o bem-estar físico, mental e social do indivíduo. A natureza pluridimensional de saúde exige assim uma análise que inclua um conjunto alargado e diversificado de indicadores que permita captar, não apenas elementos objetivos, mas também subjetivos, como é o caso das perceções sobre saúde. É o que se apresentará de seguida.

Como é que os jovens avaliam a sua própria saúde?

Uma análise da auto-apreciação do estado de saúde permite constatar que, tanto em Portugal como na UE27, é entre os jovens, sobretudo entre os mais jovens (16 -24 anos), que se verifica uma perceção mais positiva sobre a saúde, considerando-a, em grande maioria, boa ou muito boa.

Uma análise longitudinal abarcando o período de 2008 a 2019 evidencia que, em Portugal, apenas cerca de metade da população geral tende a avaliar a sua saúde como boa ou muito boa – 2008 (48,3%) e 2019 (50%). Valores substancialmente mais baixos aos registados na UE27, onde, em 2010, 66,7% da população geral considerava a sua saúde como boa ou muito boa, e em 2019 68,5%, 18,5 p.p. superior ao valor registado em Portugal.

Também entre os jovens, a proporção dos que apreciam a sua saúde como boa ou muito boa, tende a ser superior na UE27 em todos os anos do período considerado. No grupo etário dos 15 aos 24 anos, por exemplo, no ano de 2019, o contraste era evidente entre a proporção de jovens que autopercecionava a sua saúde como boa ou muito boa em Portugal (85,9%) e na UE27 (92,3%). No grupo etário dos 25 aos 34 anos, a tendência é semelhante: 81, 3% em Portugal contra 88,1% na UE27 consideram a sua saúde como boa ou muito boa.

Auto-apreciação do estado de saúde como bom ou muito bom, por grupo etário, Portugal e UE27, 2008-2019 (%)

Tanto na UE27 como em Portugal, e em todos os grupos etários, os homens tendem a fazer uma avaliação mais positiva da sua saúde do que as mulheres, adjetivando-a como boa ou muito boa. A diferença entre homens e mulheres é mais significativa em Portugal, sobretudo entre a população geral (55,4% dos homens avalia a sua saúde como boa ou muito boa, mais 10,1 p.p. que as mulheres) e no grupo etário dos 30 aos 34 anos (83,6% dos homens avalia a sua saúde como boa ou muito boa contra 79% das mulheres).). 

Auto-apreciação do estado de saúde como bom ou muito bom, por grupo etário e sexo, Portugal e UE27, 2019 (%)

Outras das variáveis que pode ser determinante na perceção do estado de saúde é o nível de rendimentos do indivíduo e do seu agregado familiar, sendo que quanto maior for o seu rendimento, mais é provável que este percecione o seu estado de saúde como bom ou muito bom.

Uma análise dos rendimentos por quintis (ver metainformação – grupos de rendimento) permite verificar isso mesmo: tanto na UE27 como em Portugal, as pessoas no quinto quintil tendem a avaliar mais positivamente a sua saúde – 79,6% e 63,2%, respetivamente. Padrão que se verifica também entre os jovens (16-29 anos) do mesmo quartil, e de forma ainda mais otimista:  94,8% na UE27 e 93,2% em Portugal avaliam a sua saúde como boa ou muito boa.

Auto-apreciação do estado de saúde como bom ou muito bom, por grupo etário e quintis de rendimento, Portugal e UE27, 2019 (%)

Existe um conjunto de doenças, como as doenças cardíacas, os acidentes vasculares cerebrais, o cancro, as doenças respiratórias crónicas e a diabetes que, pela sua génese e expressão crónica, colocam desafios adicionais aos doentes que delas padecem, tendo impacto na sua qualidade de vida e colocando-os muitas vezes em risco de morte ou incapacidade.

As alterações nos estilos de vida, nomeadamente um maior sedentarismo, uma alimentação menos equilibrada, e uma reduzida prática de atividade física, colocam as pessoas especialmente em risco de virem a padecer destas doenças, situação que afeta, cada vez mais, também os mais jovens.

Neste sentido, iremos fazer uma análise de alguns indicadores de saúde, que mapeiam a situação e representações dos jovens perante a sua saúde e dificuldades no acesso aos cuidados de saúde.

Começando por uma análise da proporção de jovens que sofrem de doença ou problema de saúde crónico ou prolongado, em 2019, na UE27 e em Portugal, constata-se que cerca de 17% dos jovens entre os 16 aos 29 anos afirmou sofrer de doença ou problema de saúde crónico.

Uma análise longitudinal dos dados, tendo como referência o período de uma década (2009 -2019), revela um aumento progressivo, ainda que com algumas oscilações, da incidência de doença ou problema de saúde crónico ou prolongado entre os jovens. Entre 2009 e 2019, a percentagem de jovens que declarou sofrer de doença ou problema de saúde crónico ou prolongado aumentou 5,2 p.p., de 11,7% para 16,9%. Para a UE27 não existem dados disponíveis para 2009, mas tendo como referência a evolução de 2010 a 2019, verificou-se também um aumento considerável, com mais 4,1 p.p. de jovens a afirmarem sofrer de doença ou problema de saúde crónico ou prolongado. Auto-apreciação de doença ou problema de saúde crónico ou prolongado, Portugal e UE27, 2009-2019 (%)

Tanto na UE27 como em Portugal, as mulheres são mais propensas a declarar sofrer de doença ou problema de saúde crónico ou prolongado (UE27 18,7% e Portugal 17,7%), respetivamente mais 4 p.p. e 1,5 p.p. do que os homens jovens (UE27 14,7% e Portugal 16,2%). Esta diferença entre homens e mulheres jovens pode resultar, não só das diferentes perceções sobre a sua saúde, mas também de outras preocupações como as que envolvem o   recurso a cuidados de saúde, nomeadamente de serviços de diagnóstico, e posterior tratamento de doença ou problema de saúde crónico.

Uma análise longitudinal da evolução deste indicador permite-nos verificar que, tanto na UE27 como em Portugal, a diferença entre homens e mulheres jovens se acentuou, especialmente na UE27, onde essa diferença quase que duplicou (de 2,4 p.p. em 2010 para 4 p.p. em 2019). Consequentemente, foi também na EU27 que, entre 2010 e 2019, se verificou um maior crescimento da percentagem de mulheres jovens que declararam sofrer de doença ou problema de saúde crónico ou prolongado, mais 4,9 p.p. em comparação com um crescimento de 3,3 p.p. entre os homens jovens. Em Portugal a taxa de crescimento foi mais significativa, mas praticamente sem diferenças entre homens e mulheres jovens: 5,1 p.p. e 5,3 p.p., respetivamente.

Auto-apreciação de doença ou problema de saúde crónico ou prolongado, por sexo, Portugal e UE27, 2009-2019 (%)

A existência de problemas de saúde crónicos ou por períodos prolongados pode condicionar a realização de tarefas do quotidiano e pode ter repercussões na qualidade de vida dos doentes. Uma análise do grau de limitação de desempenho das atividades habituais, por razões de saúde, permite verificar que, em 2019, cerca de 10,9% dos jovens dos 16 aos 29 anos residentes em Portugal sentiram algum tipo de limitação no desempenho das suas atividades quotidianas, decorrentes da sua condição de saúde, valor 3 p.p. superior ao registado na UE27.

A maioria afirma ter algumas limitações – 8,9% em Portugal e 6,2% na UE27 – sendo a proporção de jovens com um grau de dificuldade severo de 2% em Portugal e 1,7% na UE27.

Uma análise longitudinal evidencia um padrão evolutivo diferente entre a UE27 e Portugal. Na UE27 a evolução da percentagem de jovens com limitações nas suas atividades, independentemente do grau, tem se mantido estável, registando apenas ligeiras oscilações ao longo dos anos. Já em Portugal, a partir de 2014, a percentagem de jovens com algumas limitações de atividade se apresentou sempre acima da média da UE27 e, ainda que com ligeiras oscilações, com um crescimento contínuo.

Incidência de limitações prolongadas nas atividades habituais devido a problemas de saúde, por grupo etário, Portugal e UE-27, 2009-2019 (%)

Analisando agora por sexo, constara-se que em 2019 são as mulheres que mais referenciam sofrer de limitações, independentemente do grau (algumas ou severas), tanto na UE27 (8,5%) como em Portugal (12,4%), mais 1,2 p.p. e 3 p.p. que os homens jovens, respetivamente.

Incidência de limitações prolongadas nas atividades habituais devido a problemas de saúde, por sexo, Portugal e UE-27, 2019 (%)

Quantos jovens afirmam que não tiveram acesso a cuidados de saúde por motivos financeiros, tempo, listas de espera, etc?

O impacto e prevalência do estado de saúde está muitas vezes relacionado com as formas e possibilidade de acesso aos cuidados de saúde.

Em 2019, a grande maioria dos jovens, afirmou que, no que à saúde diz respeito, não existem necessidades que não estejam satisfeitas, tanto na UE27 (97,7%) como em Portugal (97,3%). Contudo, alguns jovens reportam sentir algumas dificuldades no acesso aos cuidados de saúde, nomeadamente por os cuidados de saúde serem dispendiosos, por estarem em lista de espera, por não terem tempo, por medo ou por preferirem esperar para ver se o problema melhora sozinho.

Necessidades não satisfeitas nos cuidados de saúde, por tipo de barreira de acesso, Portugal e UE27, 2019 (%)