Práticas culturais dos jovens – retratos plurais a partir do Inquérito às Práticas Culturais dos Portugueses (2020)

Texto elaborado por Catarina Rodrigues

 

O Inquérito às Práticas Culturais dos Portugueses, realizado em 2020, foi uma iniciativa do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian. Teve como propósito obter um conhecimento mais aprofundado sobre os hábitos, práticas e gostos culturais dos portugueses. A amplitude e a escala a nível nacional deste estudo longitudinal tornam-no único se comparado aos que o precederam.

 

Os resultados foram publicados em 2022 na obra intitulada Práticas Culturais dos Portugueses (Lisboa, Imprensa de Ciências Sociais) tendo José Machado Pais, Pedro Magalhães e Miguel Lobo Antunes como coordenadores. Os capítulos desta obra foram organizados em torno de diferentes áreas culturais cuja ordem seguiremos nos vários separadores, mantendo-se os mesmos títulos. O nosso intuito é apresentar alguns destaques dos resultados obtidos relativamente aos jovens, tendo em conta que estes enfoques não substituem a consulta da obra para um enquadramento mais cabal.

 

Se o contributo para o conhecimento duma investigação desta natureza é inegável, não é demais sublinhar que este tipo de estudos pode impactar nas estratégias culturais adotadas pelo governo e por entidades privadas que operam neste sector. Sabendo que desde o 25 de Abril a democratização da cultura tem sido uma preocupação da governação de todos os espectros político-partidários, a verdade é que tanto a celeridade das profundas transformações que a nossa sociedade tem atravessado, como o déficit de conhecimento específico quanto à forma como a vida cultural é fruída pelos portugueses e o contexto das suas escolhas pesam negativamente na ponderação das políticas culturais em termos das necessidades de acesso, participação ou fruição dos potenciais públicos. Esta obra fornece uma série de dados e reflexões, constituindo um recurso disponível em favor do desenvolvimento cultural, podendo ser traduzido posteriormente por estratégias governativas nacionais e municipais mais apropriadas.

 

Através das características sociográficas utilizadas, integradas nas análises bivariadas e multivariadas, o estudo permite conhecer melhor a maior ou menor probabilidade destas práticas ocorrerem de acordo com a região, o habitat, o sexo/género, a idade, a situação conjugal, o grau de ensino do próprio, o nível de escolaridade parental mais elevado completado ou frequentado, a situação perante o trabalho, classe socioprofissional, o rendimento e a perceção da situação económica individual. As características sociográficas dos inquiridos revelam em que medida diferentes inscrições sociais condicionam ou estimulam a intensidade e diversidade das práticas culturais.

 

O estudo não se debruçou sistematicamente sobre a valorização ou importância que os indivíduos atribuem às atividades culturais e as razões que lhe subjazem. A título de exemplo, na prática da leitura, é perguntado aos inquiridos qual o objetivo da sua leitura, sendo o prazer a razão mais apontada, à exceção do grupo etário dos 15 aos 24 anos que assinala a necessidade de o fazer no âmbito dos seus estudos. No entanto, noutras áreas culturais essa pergunta não é colocada da mesma forma. Neste sentido, nem sempre é possível estabelecer correspondências exatas em relação às diferentes áreas culturais, pois se em algumas se pergunta sobre qual o objetivo para se fazer uma prática, noutras questiona-se sobre qual a fonte/origem (quem ou o que recomenda) da sua escolha. Sabemos que o objetivo pode ou não coincidir com a motivação e que a causa da escolha por via de quem recomenda ou incita é uma questão diferente. Todavia, ficamos a conhecer de forma mais clara as razões impeditivas de se praticar, sendo que na sua maioria estes dados não são apresentados por grupos etários.

 

No âmbito das atividades ou práticas selecionadas, para além de se questionar os inquiridos quanto a estas razões impeditivas, indaga-se sobre a frequência das mesmas e quais as mais apreciadas face a um conjunto de opções (géneros, estilos, etc) apresentado. Em relação ao que impede uma maior frequência, as razões mais apontadas pelo conjunto dos inquiridos são a falta de tempo, a falta de interesse e o preço elevado. Torna-se evidente por este estudo que quanto maior é o grau de escolaridade e de rendimentos dos inquiridos mais intensamente se frui das práticas culturais. Em geral, este perfil de inquiridos é mais diversificado nas suas escolhas e a frequentação é mais acentuada, mesmo em eventos que poderão ser gratuitos, tal como festas locais. Exceção feita ao visionamento de televisão, em que as pessoas com menor rendimento são as que mais horas despendem a ver televisão.

 

Num país com um dos níveis de escolaridade mais baixo da Europa – como se pode constatar pela amostra do estudo em que o grupo mais representativo dos inquiridos por grau de ensino mais elevado concluído ou frequentado tem menos que o 3º ciclo de estudos – e em que os rendimentos da maior parte da população são baixos – na amostra do estudo 55% dos inquiridos afirmaram ter rendimentos até os 800 euros, 30% entre os 800 e 1500 euros e só 15% acima desse valor – a expectativa de se obterem valores elevados de frequência em todas as práticas culturais seria irrealista. Constata-se que a desigualdade socioeconómica é fraturante na forma como se usufrui da cultura. Os dados revelam-nos que o acesso e a fruição cultural estão ainda em níveis baixos, mesmo em práticas como a leitura ou no acesso a conteúdos culturais televisivos que não sejam de entretenimento. Reconhece-se que já se fez muito desde os anos 70, mas muito há ainda por fazer.

 

Nos destaques que aqui faremos relativos aos jovens, consideramos os dois grupos etários contemplados no estudo: o mais jovem dos 15-24 anos, e o seguinte, dos 25-34 anos. Cingir-nos-emos aos dados publicados nesta obra e faremos uma seleção segundo o que nos parece mais relevante, aludindo à interpretação e considerações expressas pelos seus autores. As percentagens apresentadas devem ser consideradas em relação à média apurada a partir da totalidade da amostra do estudo. No caso de questões que propõe várias opções, a percentagem estabelece-se em relação ao total das categorias consideradas.

 

Desde já se salienta que o retrato dos jovens é bastante positivo se o compararmos com os outros grupos etários. O acesso à cultura e o seu usufruto são, na sua maioria, mais expressivos que nos outros grupos etários. Como geração que mais usa a internet, são também eles que mais acedem a conteúdos culturais por este meio. Igualmente, são eles os que mais vão ao cinema, mais leem, mais visitam museus e monumentos históricos e mais assistem a concertos de música, mais vão a festivais e festas locais e são também dos que mais vão ao teatro. Em múltiplas passagens nesta obra se afirma que a democratização da educação impactou nos hábitos culturais dos jovens, embora este não seja o único fator a determiná-los. Mas através da análise dos dados recolhidos é evidente a influência positiva que a educação formal e a abertura da sociedade portuguesa ao mundo através de meios tecnológicos e da internet tiveram na intensificação da fruição e acesso dos jovens às ofertas culturais.

 

 

Aspetos metodológicos e sociografia dos inquiridos

Pedro Magalhães e Jorge Rodrigues da Silva

 

Em relação aos aspetos metodológicos e à sociografia dos inquiridos partilharemos aqui alguns dos seus aspetos sem pretender apresentá-los na sua totalidade.

O inquérito decorreu entre 12 de setembro e 28 de dezembro de 2020. O período de referência abrange os 12 meses anteriores à realização das entrevistas, e no caso de práticas desenvolvidas em espaços que estiveram encerrados durante a Covid-19, consideram-se os 12 meses anteriores ao seu início. A amostra aleatória é de 2000 indivíduos inquiridos.

Caracterização da amostra em alguns dos seus aspetos:

  • Quanto à distribuição por região é bastante aproximada à distribuição da população residente com 15 ou mais anos, de acordo com a estratificação da amostra: 35% residiam na região Norte, 27% na região da Área Metropolitana de Lisboa, 22% na região Centro, 7% na região do Alentejo, 4% na região do Algarve, 2,5% na região da Madeira e 2,3% nos Açores.
  • Quanto ao habitat 43% são de um habitat urbano, 39% de um habitat rural e 18% de em habitat intermédio urbano.
  • Quanto ao grau de ensino mais elevado atingido ou frequentado, 48% dos inquiridos afirmaram não ter atingido o 3.º ciclo, cerca de 23% afirmaram ter completado o curso secundário, 16% o 3.º ciclo e 13% o curso superior.
  • Quanto ao rendimento líquido total do conjunto das pessoas do agregado familiar, 20% de inquiridos afirmaram ter rendimentos inferiores a 500 euros, 35% com rendimentos entre os 500 e os 800 euros, 30% com rendimentos entre os 800 e os 1500 euros e 15% com rendimentos superiores.

 

A idade média dos inquiridos era de 53 anos. O inquirido mais jovem tinha 15 anos e o mais velho 94 anos. Observando a distribuição dos inquiridos por faixas etárias, 9% dos inquiridos situavam-se entre os 15 e os 24 anos, 12% entre os 25 e os 34 anos. Em relação à distribuição da amostra por faixa etária, verifica-se que o estudo apresenta uma percentagem de jovens dos 15 anos aos 34 anos inferior à percentagem de jovens residentes em Portugal em 2019, enquanto a percentagem dos inquiridos de 65 anos ou mais é mais elevada do que a população desse escalão etário a residir no nosso país nessa altura. A ter em conta, igualmente, que a amostra sobrestimou o peso dos indivíduos com menores níveis de instrução. Tal como se afirma no esclarecimento sobre os aspetos metodológicos, estes desvios ocorrem em amostras selecionadas aleatoriamente. Neste sentido, de forma a atenuá-los foi aplicado um ponderador pós-amostral.

 

Distribuição dos inquiridos jovens (%)

Fonte: Práticas culturais dos portugueses, 2022

(N=2000; 15-14 anos, N= 171; 25-34 anos, N= 244)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Internet, práticas culturais online e distinção

Teresa Duarte Martinho e Tiago Lapa

 

Uma das áreas estudadas diz respeito às tecnologias de informação e aos usos de internet de âmbito cultural, contemplando as modalidades de acesso e as competências. Verificou-se que a sua prática em Portugal está na retaguarda em comparação com o contexto europeu.

Os resultados do inquérito mostram que 71% dos inquiridos referem utilizar a Internet e passam em média cerca de 30 horas por semana a fazê-lo. Quando se distingue o tempo de ligação diário efetuado por lazer obtém-se 82% e por trabalho ou estudo 41%. Não restam dúvidas de que a estrutura demográfica e habilitacional do nosso país é decisiva nesta distribuição uma vez que o uso da Internet atinge os 100% entre os inquiridos dos 15 aos 24 anos e 99% dos 25-34 anos, enquanto os inquiridos com 65 anos ou mais situam-se nos 26%. Sendo a população portuguesa muito envelhecida entende-se que os 29% que não a utilizam são essencialmente os grupos etários mais velhos.

 

Percentagem de utilizadores jovens da internet (%)

Fonte: Práticas Culturais dos portugueses, 2022

(N=1419)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Na distinção entre o tempo de ligação semanal por trabalho ou estudo e por lazer, os mais jovens apresentam de um modo geral médias mais altas face ao total dos inquiridos. Os mais jovens destacam-se com 17 horas, em média, no uso da internet por lazer, enquanto a média do total dos inquiridos é menor, ou seja, 10 horas. O contrário é verificado nas horas aplicadas no trabalho ou estudo em que o total da população inquirida despende 18 horas em média, enquanto nos mais jovens corresponde a 15 horas. No escalão seguinte, a situação é ligeiramente diferente pois as horas despendidas pelos jovens no trabalho ou estudo igualam o valor do total com 18 horas de média e também se aproximam mais da média total da ligação à internet por lazer com uma diferença de 3 horas (13 horas).

 

Média de horas por semana de ligação à Internet, para trabalho ou estudo e por lazer

Fonte: Práticas Culturais dos portugueses, 2022

(N=1419)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Por outro lado, também as desigualdades socioeconómicas se repercutem nos 38% dos portugueses que só utilizam um meio de acesso e nos 11% que declaram não ter equipamentos. Na realidade, os utilizadores que usam mais equipamentos, os chamados transmediáticos, tendem a ser mais jovens, mais instruídos, com rendimentos mais elevados e de classes socioprofissionais mais privilegiadas. O dispositivo preferencial é o telemóvel, usado por 89% dos internautas, garantindo uma conectividade contínua, em particular dos mais jovens.

Procurou-se aprofundar o conhecimento sobre o tipo de utilização feita online através de uma análise fatorial, método que consiste em identificar inter-relações subjacentes entre as variáveis aplicadas a respeito da frequência com que os internautas pesquisam determinados conteúdos de âmbito cultural e transformá-las num novo conjunto de variáveis mais reduzidas não correlacionadas, permitindo delinear possíveis perfis de utilizadores.

Assim, estabeleceram-se quatro componentes principais que definem a tipologia associada ao tipo de fruição:

  • Componente 1: Consumo de informações e artefactos relativos a cultura cultivada;
  • Componente 2: Consumo e Cultura participativa em torno de conteúdos culturais;
  • Componente 3: Prosumption: Leitura e comentários em blogues e sites comerciais;
  • Componente 4: Leitura e procura de conteúdos noticiosos e enciclopédicos.

 

Embora os portugueses se dediquem mais à leitura e procura de conteúdos noticiosos e enciclopédicos (42%), verifica-se que em todas as quatro componentes, os dois grupos etários mais jovens ultrapassam percentualmente a média obtida a partir de todos os grupos etários. São, portanto, utilizadores diversificados que usam a internet intensamente no seu dia-a-dia para vários fins. Os valores acima da média também se verificam nos inquiridos com grau de escolaridade e rendimentos mais elevados.

Na interpretação da componente 1 (7% da totalidade), os autores salientam que no espaço rural, ainda que a utilização da internet seja ligeiramente menor, os internautas são tendencialmente mais jovens e escolarizados, e por estarem distantes dos equipamentos ou ofertas culturais retiram proveito das ofertas culturais online. A componente 2 (12% da totalidade) é aquela que possui a idade média mais baixa (31 anos). Este perfil é aquele em que o grupo etário mais novo (25,6%) e os estudantes (39,4%) têm maior expressão. Estas duas componentes estão também associadas a internautas com um grau de ensino superior e rendimentos do agregado familiar acima dos 2700 euros. O mesmo é verificado na componente 3, ainda que haja mais possibilidades destes utilizadores se situarem entre os 25-34 anos (20,2%). Se atendermos aos valores dos índices, os mais jovens revelam índices mais elevados nas duas primeiras componentes (1,81 e 2,35 sendo o índice do total, respetivamente, 1,55 e 1,86), enquanto na componente 3 e 4 (1,78 e 2,83 sendo o índice do total, respetivamente, 1,52 e 2,56) o escalão dos 25-34 anos toma a dianteira. Os índices decrescem mais marcadamente a partir dos 45 anos.

Esta análise permite concluir que os internautas que mais usufruem daquilo que a internet pode oferecer de forma mais sofisticada e como capital de conhecimento são detentores de literacia digital, de níveis elevados de escolaridade e têm possibilidade de acesso às tecnologias. Estes usos, associados ao desenvolvimento de competências específicas nesta área, no caso dos mais jovens podem de facto reverter certas desvantagens quando estes se localizam fora dos grandes centros urbanos, mas a desigualdade neste acesso continua a ser um obstáculo que se deve combater.

 

Valores médios dos índices relativos à frequência do tipo de atividades online (1-nenhuma frequência – 5 diariamente)

Fonte: Práticas Culturais dos portugueses, 2022

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A domesticação da televisão e da rádio na era digital ‘pós-radiodifusão’

Tiago Lapa

 

Como o título sugere, a televisão e a rádio são aqui consideradas, num contexto em que os seus meios de difusão tradicionais sofreram uma transformação com as utilizações proporcionadas pelas tecnologias digitais, diversificando tanto a forma como são concebidas como os meios de acesso à sua programação.  A realidade mediática apresenta atualmente modelos híbridos em que nem o emissor nem o recetor têm um total controlo sobre a distribuição. Por outro lado, o recetor pode talhar à sua medida o modelo de utilização destes meios. Fala-se então de ‘domesticação’ para descrever o processo através do qual a fruição se concretiza no espaço privado e no quotidiano dos seus utilizadores.

O resultado quanto à questão da fruição diária da televisão e da rádio diz-nos que 90% dos respondentes veem televisão e 40% ouvem rádio. São os indivíduos com 65 anos ou mais e com os rendimentos mais baixos que mais tempo o fazem, contrastando com os jovens, os mais instruídos e os de rendimentos mais elevados. Na realidade, os jovens correspondem a um perfil mais instruído e com maiores rendimentos e que, tendencialmente, vê menos televisão, tanto durante a semana (média de 2 horas), como ao fim de semana (média de 3 horas), em contraste com os indivíduos com 65 anos ou mais que despendem em média, respetivamente, 4 horas e 5 horas.

 

Média de número de horas de visionamento de TV num dia típico de semana e num dia de fim-de-semana

Fonte: Práticas Culturais dos portugueses, 2022

(N=1863; N=1859)

 

Apesar da diversificação de meios, a maior percentagem dos portugueses vê televisão através do aparelho tradicional (98%), não se registando grandes variações de acordo com as categorias sociodemográficas. No entanto, os inquiridos mais jovens e urbanos inserem-se numa prática de experiências comunicativas que abrangem diversas plataformas e modalidades mediáticas, relevando-se um maior número de perfis segmentados e determinados pelos seus diferentes interesses. Apesar dos 94% dos mais jovens usarem o aparelho para ver televisão, 4% usa o tablet e 2% utiliza o telemóvel.  O facto de pertencerem ao grupo dos grandes utilizadores da internet e do telemóvel, contribui para que o tempo de visionamento da televisão seja menor, indicativo da oferta mais variada de modalidades mediáticas.

 

Principal dispositivo onde se vê televisão (%)

Fonte: Práticas Culturais dos portugueses, 2022

(N=1941)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Quanto às preferências por tipo de programa, a escolha da população portuguesa recai esmagadoramente nas notícias, reportagens e informação com cerca de 81%, seguindo-se o visionamento de filmes com 57%, de séries com 43%, telenovelas com 40% e documentários com 36%. São os jovens em particular que despendem mais tempo a usufruir de ficção, em particular os mais novos dos 15-24 anos (84%). Já em relação aos conteúdos informativos e desportivos a percentagem desce para 35%. O autor assinala que vários autores defendem que a ficção televisiva se assume como forma de construção simbólica e identitária das suas audiências, em particular nos mais jovens, em que a sua identidade se constitui também na dinâmica que estabelecem com as personagens.

Dentro dos inquiridos, 40% ouvem rádio diariamente, sendo que destes 66% fá-lo na sua viatura e 40% em casa. Os grandes ouvintes de rádio não são os mais jovens, são na sua maioria adultos em idade ativa e com trabalho remunerado que aproveitam as suas deslocações para o trabalho para ouvir notícias e música. A preferência é dada a programas noticiosos e de informação (59%), seguindo-se a música popular (50%) e em menor percentagem outros programas de música (36%).

É de notar que os mais jovens ouvem música via internet em modalidades que não são a rádio tradicional (por exemplo o spotify), justificando-se a sua ausência do grupo dos grandes ouvintes. Do grupo dos 15 aos 24 anos são 25% os que dizem ouvir conteúdos radiofónicos através da internet. Tal como já afirmado em relação à utilização da televisão, estes são usufruídos pelos mais jovens numa multiplicidade de modalidades mediáticas.

 

Jovens que ouvem rádio diariamente (%)

Fonte: Práticas Culturais dos portugueses, 2022

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A leitura e a frequência de bibliotecas e arquivos no arranque dos anos 20 do século XXI

Emanuel Cameira

 

No Inquérito feito, a prática de leitura refere-se especificamente ao objeto-livro (impresso ou digital), jornais e revistas e não a todo o tipo de textos que se podem ler atualmente via internet. Admite-se desde logo que a sociedade portuguesa tem sido marcada por um deficit educacional e cultural estrutural cujo efeito nos hábitos de leitura é ainda notório. Salienta-se que o Plano Nacional de Leitura (2006) é uma das medidas governativas tomadas para tentar reverter esta tendência.

Apurou-se neste estudo que 61% dos portugueses não leram livros impressos no último ano. O valor aumenta para 90% relativamente à leitura de livros em formato digital. Entre aqueles que leem livros diária ou semanalmente a maior representação verifica-se naqueles com um nível de ensino superior, nos escalões etários mais jovens e que têm rendimentos mais elevados.

Verifica-se nos grupos mais jovens, em termos das categorias de grandes leitores (mais de 20 livros), de médios leitores (6 a 20 livros) e de pequenos leitores (1 a 5 livros), que é no grupo dos 25 aos 34 anos que há 1% de grandes leitores. É uma percentagem extraordinariamente baixa. É na categoria dos pequenos leitores que encontramos os valores mais altos, no caso do grupo dos 15 aos 24 anos cerca de 34% e no grupo dos 25 aos 34 anos 36%. Relativamente à leitura de livros digitais, são os mais jovens aqueles que somam maiores valores percentuais se comparados aos outros grupos etários.

 

Tipos de leitores de livros impressos por ano (%)                             

Fonte: Práticas Culturais dos portugueses, 2022                                                                           

(N=700)

 

 

Tipos de leitores de livros digitais por ano (%)

Fonte: Práticas Culturais dos portugueses, 2022

(N=131)

           

 

 

 

 

 

 

 

 

O Inquérito apurou que é o prazer (68%) que motiva a maioria dos portugueses a ler. Esta motivação é transversal ao grau de escolaridade e aos vários grupos etários, embora sejam os mais velhos que a privilegiam. Nos mais jovens, a necessidade de ler no contexto dos estudos e para realizar trabalhos escolares/académicos surge como a primeira razão mais assinalada com 45%, mais 3% do que ler por prazer. Em sentido inverso, no caso do escalão etário seguinte, estes valores são, respetivamente, 14% e 69%. É a partir dos 45 anos que este motivo mais marcadamente se destaca, atingindo nas pessoas com 65 anos ou mais 88%. Para pesquisar temas específicos de interesse pessoal ou para o exercício da profissão são objetivos surpreendentemente baixos em grupos etários adultos, sendo a primeira razão a única que sobressai no grupo dos 35-45 anos com 14%.

 

Objetivos que levam os jovens a ler (%)

Fonte: Práticas Culturais dos portugueses, 2022

(N=821)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Uma das conclusões retiradas do estudo respeitante aos hábitos de leitura na infância e adolescência em contexto familiar revela que a maioria dos portugueses até aos quinze anos de idade nunca ou só raramente desfrutou de histórias lidas e de livros disponibilizados pelos seus familiares. Igualmente, o hábito de ir a feiras do livro, livrarias ou bibliotecas era raro ou nenhum. Porém, no escalão etário dos 15-24 anos existe um maior número de jovens cujos familiares lhes liam histórias frequentemente ou algumas vezes e a oferta de livros já tem alguma expressão, assim como no escalão dos 25-34 anos. Estes dados indicam que o facto dos jovens terem pais mais escolarizados no contexto presente, com mais consciência do valor da cultura e dos benefícios da leitura, instilam este hábito nos seus filhos. Sem dúvida que neste aspeto, a democratização do acesso à educação no pós-25 de Abril acarretou uma mais-valia cultural nas gerações sucessoras.

Fica aqui uma breve nota relativa à frequentação de bibliotecas e arquivos, uma vez que é no grupo mais jovem que existe uma maior percentagem de assiduidade a este tipo de equipamento. Se na população total 80% dos portugueses afirmaram não se terem deslocado a estes espaços, o grupo dos 15-24 representam 8% dos que os frequentaram, assumindo um maior peso que os outros grupos etários. Destes, 48% disseram não os ter frequentado. São os jovens que mais se deslocam a estes espaços por consequência de uma necessidade relacionada com a sua condição de estudantes.

 

 

Círculos ainda estreitos: museus, monumentos históricos, sítios arqueológicos e galerias de arte

Teresa Duarte Martinho

 

Numa investigação que pretende compreender e caracterizar os visitantes a espaços patrimoniais  que se enquadram na designação genérica de património cultural, entende-se aqui que este se define por “uma construção sociocultural que mobiliza um conjunto dinâmico e complexo de práticas, que envolve agentes e agências; implica processos sociais a partir dos quais se geram demandas de patrimonialização de um determinado bem, assim como valores e sentidos que o legitimam” (Práticas Culturais dos Portugueses: 200).

À pergunta se tinham visitado um destes espaços, 31% dos inquiridos dizem ter visitado monumentos históricos e 28% museus. A procura de sítios arqueológicos e galerias de arte foi marcadamente menor, sendo, respetivamente, 13% e 11%. A periocidade com que são feitas demonstra que as visitas são realizadas apenas uma ou duas vezes por ano. Uma maior intensidade na frequência não é uma prática regular. Quando a pergunta se aplica a nunca ter visitado uma ou mais vezes estes espaços, apurou-se que 72%, 69%, 86% e 88% nunca visitaram, respetivamente, museus, monumentos históricos, sítios arqueológicos e galerias de arte. O interesse nestas visitas decresce com a idade e é mais manifesto entre aqueles que têm um grau de escolaridade mais elevado, atingindo 70% na categoria dos que têm o ensino superior concluído ou frequentado.

Dos visitantes, a população escolar é a mais representativa com 58% do grupo dos estudantes a visitar museus, monumentos, sítios arqueológicos e galerias de arte. Relativamente aos mais jovens, 47% dos que têm entre 15 e 24 anos e 41% dos que têm entre 25 e 34 anos figuram entre os visitantes, percentagens superiores se comparadas ao total da população inquirida com 34%. Estes dados são corroborados pelo facto de se verificar que a ida a entidades patrimoniais no concelho onde se reside é mais expressiva na faixa etária mais jovem, considerando-se por isso que a explicação reside nas escolhas das escolas em preferir locais num perímetro mais próximo. Mais acresce que 8% dos entrevistados afirmam ter feito as visitas integrados num grupo de escola, enquanto a grande maioria das pessoas se faz acompanhar por familiares (65%).

 

Jovens visitantes aos espaços patrimoniais (%)

Fonte: Práticas Culturais dos portugueses, 2022

(N=684)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ecletismo ou distinção? Cinema, espetáculos ao vivo, festivais e festas locais

Vera Borges

 

Nestas práticas culturais analisam-se um conjunto de indicadores relativos ao acesso à cultura pela frequência de salas de cinema, espetáculos ao vivo, festivais e festas locais. Assume-se que a qualidade da análise dos dados depende do conjunto de práticas e o ecletismo cultural contemporâneo. O estudo revisita o argumento da distinção cultural e procura testar a ‘orientação omnívora’ dos frequentadores destas práticas como formas de ponderar este paradigma de consumo.

O ecletismo aponta para a autonomia relativa do individuo quanto às suas escolhas culturais, de acordo com critérios mais pessoais, revestindo-se de um caracter mais aberto. É contrária à ideia de ‘homologia estrutural’, modelo dos anos 70 difundido em França e teorizado por Pierre Bourdieu, cuja legitimidade assenta nas posições sociais e estilos de vida do indivíduo assimilados na sua socialização primária, constituintes de uma hierarquização na identidade social e respetivos gostos, em que os hábitos culturais são mais transmitidos do que acumulados. Neste mesmo sentido aponta a literatura especializada destas duas últimas décadas, que defende que a correlação entre classes sociais mais altas e fruição de atividades eruditas não se pode sustentar; pelo contrário, o que se observa é que nas práticas culturais parece haver uma aproximação entre as classes sociais.

Exatamente por haver esta tendência e por esta se verificar também neste estudo, o conceito do ‘omnivorismo cultural’, que define um padrão de fruição individual assente na frequência e na seleção de uma diversidade de atividades culturais de diferentes géneros e estilos, é pertinente para o retrato da nossa realidade, nomeadamente a dos mais jovens, dos mais escolarizados e em particular dos que têm maior rendimento. Este padrão é o oposto do perfil unívoro, caracterizado por um consumo cultural menos eclético e de ritmo menos frequente, presente com maior expressão em Portugal.

No caso dos jovens, fica a questão por responder se a sua tendência para um crescente omnivorismo cultural reflete realmente uma nova sensibilidade para a cultura ou se trata de outro fenómeno. É certo que nos dois grupos etário mais jovens se verifica uma tendência crescente para se frequentar diferentes tipos de espetáculo, de diferentes géneros, estéticas ou valores (13% de omnívoros), parecendo indicar, tal como a autoria avança, uma assimilação de uma atitude de ‘tolerância cultural’. Se os compararmos aos indivíduos unívoros e omnívoros com 35 ou mais anos, cujas percentagens são, respetivamente, acima dos 90% e abaixo dos 10%, compreende-se que se possa identificar nas gerações mais jovens novos hábitos que os distinguem dos mais velhos.  O omnivorismo mais jovem é caracterizado por graus de instrução mais elevados e por um maior grau de instrução e escolaridade parental média e superior. Esta orientação de consumo cultural é mais frequente nos estudantes e trabalhadores com rendimentos do agregado familiar mais elevados, incidindo também sobre os profissionais socioculturais. No caso dos mais jovens, dos 15 aos 24 anos, existe maior concentração no Norte de Portugal.

 

Distribuição dos jovens por omnívoros e unívoros (%)

Fonte: Práticas Culturais dos portugueses, 2022

(N=1849)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ainda que se tenha feito um percurso positivo na democratização da educação e na implementação de políticas públicas que articulam cultura e educação, e os mais jovens apresentem um perfil mais individualizado, agora igualmente definidas pelas redes de sociabilização mais alargadas das comunidades digitais, a verdade é que se conclui que a fruição da cultura continua marcada pela estratificação social.

 

Cinema

O Inquérito mostra que, entre os espetáculos culturais analisados, o cinema é aquele que tem uma taxa de participação mais elevada com 41% da população inquirida a ter ido ao cinema, destes 15% uma ou várias vezes por mês. Esta prática é mais expressiva entre os mais jovens, os que possuem o ensino superior, grandes empresários e profissionais liberais, e residentes na área metropolitana de Lisboa e na Região Autónoma da Madeira. As suas preferências são os filmes de ação (25%), animação (12%), comédia (11%) e ficção científica (11%).  Os principais motivos que levaram à escolha do último filme foram o tema, os atores e o realizador, as recomendações de familiares e amigos, e o convívio. É de referir que os indivíduos com rendimentos entre os 500 euros e os 800 euros não assistiram a nenhum filme em sala.

Como a autora o designa, o consumo de cinema é a ‘locomotiva’ dos jovens pois observamos que este tipo de prática é mais frequente entre a população jovem, dos 15-24 anos, com 82% a declararem ter ido ao cinema: 38% foram uma ou mais vezes por mês e 44% foram menos de uma vez por mês, percentagens marcadamente mais elevadas do que as do total dos inquiridos que são, respetivamente, 15% e 26%. Os resultados do grupo etário dos 25 aos 34 anos aponta para uma menor frequência nas idas ao cinema, com 68%, em que 28% foram uma ou várias vezes por mês e 40% menos de uma vez por mês. Também estes se deslocam às salas com maior frequência do que as gerações mais velhas.  

 

Jovens que foram ao cinema (%)

Fonte: Práticas Culturais dos portugueses, 2022

(N=821)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Os inquiridos dos 25-34 anos foram maioritariamente ao cinema com os familiares, namorados/as e amigos/as, enquanto esta última razão é destacada pelos mais jovens dos 15 aos 24 anos. Ambos os grupos manifestam a importância da sociabilidade dos comportamentos e estabelecimento das redes de convivialidade na saída para ver o filme numa sala de cinema, embora não ter com quem ir é referido pelos mais jovens.

 

Teatro

O estudo apurou que apenas 13% dos inquiridos assistiram a espetáculos de teatro. Entre os mais jovens, é no grupo dos 15-24 anos que se encontra maior adesão em ir ao teatro, sendo que 16% afirmaram assistir a uma peça de teatro 1 ou 2 vezes por ano, enquanto a percentagem do total dos inquiridos é de 11%. Este envolvimento deve-se a uma maior oferta dirigida para este público e por uma ampla divulgação em vários tipos de meios, digitais e outras. Já os jovens dos 25 aos 34 anos perfazem 12%, um valor próximo do resultado relativo ao total dos inquiridos.

 

Jovens que assistiram a espetáculos de teatro (%)

Fonte: Práticas Culturais dos portugueses, 2022

(N=259)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Festivais e festas

Uma das práticas culturais mais apreciadas pela população portuguesa é a participação em festivais ou festas locais, com uma representatividade de 38%: 26% em festas locais e cerca de 11% em festivais. Ao contrário dos festivais, o gosto pelas festas locais é transversal a todas as idades e procuradas por pessoas de diferentes contextos socioeconómicos, esbatendo as clivagens sociais. O caracter convivial deste tipo de atividade é acentuado, aliás, motivo mais referido pelos inquiridos para o fazerem. As festas mais frequentadas pelos inquiridos, em média, são as festas tradicionais e populares, depois as festas religiosas e, por fim, as festas de gastronomia, preferência também seguida pelos dois grupos etários mais jovens. A ida ao festival e à festa local foi feita maioritariamente com os familiares e em menor percentagem com o/a namorado/a e amigos. Relativamente aos jovens, verifica-se que dos 15 aos 24 anos 26% dizem tê-las frequentado. Esta percentagem desce para 24% nos que têm entre 25 e 34 anos.

 

Jovens que assistiram a festas locais e festivais (%)

Fonte: Práticas Culturais dos portugueses, 2022

(N=524)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Música

Assistir a um concerto de música ao vivo traduz um universo de 24% face ao total dos inquiridos. Os mais jovens, dos 15-24 anos, representam 42% e os que têm 25-34 anos 43%, valores que refletem significativamente uma maior participação dos jovens nesta prática cultural.  Na sua generalidade a população portuguesa ouve mais Pop-Rock com 14%. No grupo mais jovem, as preferências do género musical vão especialmente para o Rap e o Hip-hop, seguindo-se o Jazz e a música popular brasileira. O grupo dos 25 aos 34 anos dá igualmente preferência ao Rap e Hip-hop, contudo, e em escala decrescente, aprecia mais o Pop/Rock e a música africana. É no centro do país, seguindo-se o Norte e a Área Metropolitana de Lisboa, que o gosto pelo Rap/Hip-hop tem maior expressão.

 

Jovens que assistiram a um concerto de música ao vivo (%)

Fonte: Práticas Culturais dos portugueses, 2022

(N=2000)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Participação artística e capitais culturais

Rui Telmo Gomes

 

É no âmbito das práticas artísticas amadoras que são apresentados os nossos destaques. O estudo pretendeu fazer um retrato do artista amador, tanto no que diz respeito às áreas a que se dedica e à regularidade com que as pratica. Para tal consideraram-se as práticas: escrita; fotografia/vídeo/cinema; pintura/desenho/gravura; música; escultura/cerâmica/artesanato; dança/ballet; artes digitais; teatro; e circo. O empenho na realização de práticas artísticas amadoras entre a população portuguesa é relativamente reduzido e decresceu consideravelmente se comparado ao que foi apurado no final dos anos 90 em Portugal.

Neste estudo, cerca de 17% dos inquiridos respondem afirmativamente quanto à sua participação nestas práticas. Observa-se também que há uma prevalência da atividade da escrita e menos outras atividades como a fotografia, vídeo, música ou dança. Agregando as várias práticas artísticas, verifica-se que a regularidade com que é praticada está fortemente associada ao nível de escolaridade e, em menor grau, com a idade ou a categoria socioprofissional. Entre os portugueses com nível de ensino superior, a realização de qualquer prática artística amadora atinge 32%. Tal como noutras áreas culturais, o motivo mais evocado para as realizar é o prazer, seguindo-se a expressão pessoal e a distração da vida quotidiana.

É uma atividade mais expressiva entre os mais jovens. É também notório que é neste escalão que se reconhece o papel preponderante da escola tanto na formação artística, como nas iniciativas que são promovidas, tal como as visitas culturais. Neste aspeto também se alterou aquilo que era comum em Portugal no passado, em que as práticas artísticas amadoras eram desenvolvidas principalmente em associações/coletividades locais, academias, aulas particulares e instituições do ensino superior. Tal como o autor sublinha, se o capital escolar (próprio ou familiar) é um aspeto impactante na mobilização desta participação, a massificação da escolaridade após o 25 de Abril constitui outro fator determinante. Entre os jovens, os que têm entre os 15 e os 19 anos são que mais se dedicam à prática artística amadora a um ritmo semanal, com cerca de 17%, e os dos 25 aos 34 anos com cerca de 14%. Já a nível mensal, os valores invertem-se e teremos, respetivamente, 16% e 21%. No entanto, não deixa de ser significativo que o grupo de jovens mais velhos atinge uma taxa de 72,5% por nunca as ter praticado, em comparação com a taxa de 53% do grupo mais jovem. Estas percentagens parecem estar em sintonia com a diminuição do desempenho destas práticas nos escalões etários mais velhos, em especial a partir dos 65 anos ou mais.

 

Prática artística amadora dos jovens por regularidade (%)

Fonte: Práticas Culturais dos portugueses, 2022

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Quanto aos meios utilizados, cerca de metade dos jovens combinam os meios digitais e os tradicionais, enquanto 32% dos mais jovens apenas usam meios tradicionais, contra 17% que apenas usa os digitais. A frequência destas disciplinas na escola secundária pode justificar estes dados entre os mais jovens, onde muitas das disciplinas se aplicam com meios tradicionais, ao contrário da fotografia e vídeo, que são hoje formas artísticas vocacionadas para ambientes digitais. O que os dados demonstram é que os meios digitais se tornam menos frequentes com o avançar da idade.

 

Meios utilizados na realização das práticas artísticas (%)

Fonte: Práticas Culturais dos portugueses, 2022