Jovens no mercado de trabalho – algumas tendências

No 2º trimestre de 2016 o Inquérito ao emprego integrou um módulo ad hoc Jovens no mercado de trabalho introduzindo alguns indicadores adicionais para captar as dinâmicas dos jovens no mercado de trabalho. Os dados apresentados nesta análise têm como base os resultados desse módulo.

Em Portugal, em 2016 a população jovem dos 15 aos 34 anos representava 22,1% (2 278,4 mil pessoas) da população, dos quais 10,7% inclui-se na faixa etária dos 15 aos 24 anos e 11,45% na dos 25-34 anos. (INE 2017).

No 2º trimestre de 2016, 59,4% dos jovens entre os 15 e os 34 anos não se encontrava a frequentar um nível de ensino formal. De entre essa percentagem 77, 6% estavam empregados, 42,4% são jovens entre os 30 e os 34 anos e 71,1% com escolaridade até ao ensino pós-secundário, sendo que a maioria não voltou a estudar.

Os que se encontravam a estudar (38,2%) eram, na sua maioria jovens inativos (85,7%), entre os 15 e os 19 anos (59,6%) e com escolaridade até ao 3º ciclo (56,2%).

Em média, e de acordo com dados do 2º trimestre de 2016, os jovens terminaram o seu percurso educativo com 20 anos, ou aos 18 anos, no caso dos jovens inativos. As médias de idades aumentam em proporção do nível de escolaridade atingido.

Em 2016, de acordo com dados do Eurostat, a taxa de abandono precoce de educação e formação era, em Portugal, de 13,6%. Embora superior à média da EU28, situada nos 10,8%, aquela taxa está muito longe dos valores observados dez anos antes (2006) em que atingia os 38,5%, contrastando com os 15,3% então registados na EU28. Este progresso representa um dos maiores feitos da última década para o qual contribuíram medidas de combate ao abandono e promoção do sucesso educativo levadas a cabo por vários governos.

A razão apontada pelos inquiridos para a não progressão dos estudos foi a vontade de começar a trabalhar (45,7%), que pode indiciar uma relação com a escolaridade menos positiva ou alguma descrença no valor dos diplomas escolares no mercado de trabalho, , ou ainda, também, motivos financeiros (21,5%), o que é um dado coerente com o empobrecimento, com a crise, de uma expressiva proporção das famílias portuguesas e que poderá re-situar alguns destes jovens no papel contribuintes para o orçamento familiar.

O tempo decorrido entre o fim da escola e o início do primeiro emprego significativo, foi de até 3 meses para 31,9% dos jovens, aumentando com a idade, sendo de 37,3% para os jovens entre os 30 e os 34 anos. Para cerca de um quinto dos jovens (19,3%), sobretudo entre os jovens dos 20 aos 24 anos (24,8%), o primeiro emprego significativo surgiu 12 ou mais meses depois da saída da escola, sendo que 7,6% não encontrou ainda um emprego significativo. O tempo de espera surge, pois, como um período crítico para possíveis intervenções no âmbito das políticas públicas, quer no domínio da redução do tempo de espera, quer, por exemplo, contribuindo para o reequacionamento de opções, incluindo a obtenção de mais formação e/ou qualificação.

Referências bibliográficas

Oliveira, C. (2016) Tema em análise: Jovens no mercado de trabalho – Módulo ad hoc de 2016 do Inquérito ao Emprego. Lisboa: Instituto Nacional de Estatística.

Em termos de emprego, em 2016 89% dos jovens afirma não ter tido qualquer tipo de apoio institucional na procura de emprego nos últimos 12 meses (Centro de Emprego ou outras entidades parceiras do IEFP ou instituição de ensino). Os dados não permitem aferir, no entanto, se esta ausência se deve à falta de procura, se à ausência de resposta institucional, sendo ainda assim um indicador muito significativo para refletir sobre o modo como os jovens se relacionam com as instituições.

De facto, encontraram emprego sobretudo através de rede de familiares, amigos e e conhecidos (42,1% dos trabalhadores por conta de outrem) – sobretudo jovens entre os 20 e os 24 anos (48,3%); por contacto direto com a entidade patronal (18,6%); e por resposta a anúncios (16,9%) – principalmente entre os jovens com ensino superior (29%).

No que diz respeito às skills mismatch, só cerca de metade dos jovens empregados (49,7%) considera que o seu nível de ensino está totalmente ou bastante adequado ao trabalho que exercem, sendo que a perceção sobre o grau de adequação aumenta com a idade (51,5% nos jovens entre os 25 e os 34 anos) e com a escolaridade (59,9% para jovens com ensino superior), provavelmente porque o número de anos no mercado de trabalho permite aos jovens buscar, sucessivamente, empregos cujo perfil de competências seja mais coerente com o seu perfil de formação. Sublinhar, portanto, que para cerca de um terço dos jovens empregados (32%) as suas qualificações são superiores às necessidades do trabalho que exercem, sobretudo entre as mulheres (33,5%), jovens entre os 15 e os 24 anos (37,4%), e jovens com ensino secundário ou pós-secundário (37,5%).

Existem ainda 45,1% dos jovens que consideram existir uma desadequação entre a sua escolaridade e o trabalho que exercem, sobretudo entre os trabalhadores não qualificados (54,8%).

Entre os jovens que não se encontram empregados, 50,6% não estavam dispostos a mudar de residência para encontrar emprego, sendo esta proporção mais elevada entre os desempregados, cuja maioria (64,6%) afirma estar disposta a fazê-lo, do que entre os inativos (35,7%). Entre os desempregados, 22,3% estavam dispostos a migrar para qualquer país, dos quais 15,4% apenas para países da União Europeia; e 26,9% apenas considerava migrar em Portugal. A resistência à mobilidade territorial dos portugueses é um fator que introduz alguma inflexibilidade na gestão de transições para e no mercado de trabalho, pelo menos para uma proporção significativa daqueles que não estão empregados e se afirmam ativos.

Por um lado, é entre os jovens com ensino superior (71,7%) que existe uma maior disponibilidade de mudança de residência para encontrar emprego, justamente aqueles que terão, à partida, mais argumentos para encontrar um emprego; por outro lado, é entre os mais jovens (15-19 anos) que se verifica uma maior indisponibilidade para mudar de residência (27%).

No que diz respeito à experiência profissional durante os estudos, a maioria dos jovens entre os 15 e os 34 anos não teve nenhum contato com a realidade profissional durante a frequência do nível de escolaridade mais elevado obtido (62,3%). São sobretudo os jovens entre os 30 e os 34 anos (45,7%), os que tinham o ensino superior (58,1%), os empregados (44,2%) e os incluídos no grupo profissional “Quadros superiores e especialistas” (58,9%), que tiveram uma experiência profissional durante os estudos.

Entre os jovens que tiveram algum tipo de experiência profissional (34,3%), 13% foi no âmbito de um estágio curricular, ou seja, no âmbito de um curso.

Resultados do módulo Jovens no mercado de trabalho, que tem como referência dados do 2º trimestre de 2016, evidenciam a importância da existência de uma experiência profissional durante os estudos, na medida em que a taxa de emprego é mais elevada – cerca de 7,8 p.p. entre estes jovens.

Na mesma medida, existe uma relação entre a duração da procura do primeiro emprego significativo e a existência de uma experiência profissional durante os estudos, sendo que para estes jovens, 21,1% já tinha um emprego significativo quando saiu da escola e 33,9% encontrou-o até 3 meses após sair da escola, sendo que apenas 14,3% demorou um período igual ou superior a 12 meses.

Referências bibliográficas

Oliveira, C. (2016) Tema em análise: Jovens no mercado de trabalho – Módulo ad hoc de 2016 do Inquérito ao Emprego. Lisboa: Instituto Nacional de Estatística.

Empregado

Indivíduo com idade mínima de 15 anos que, no período de referência, se encontrava numa das seguintes situações: 1) tinha efetuado trabalho de pelo menos uma hora, mediante pagamento de uma remuneração ou com vista a um benefício ou ganho familiar em dinheiro ou em géneros; 2) tinha uma ligação formal a um emprego mas não estava temporariamente ao serviço; 3) tinha uma empresa, mas não estava temporariamente a trabalhar por uma razão específica; 4) estava em situação de pré-reforma, mas a trabalhar.

Desempregado

Indivíduo, com idade mínima de 15 anos que, no período de referência, se encontrava simultaneamente nas situações seguintes: a) não tinha trabalho remunerado nem qualquer outro; b) estava disponível para trabalhar num trabalho remunerado ou não; c) tinha procurado um trabalho, isto é, tinha feito diligências no período especificado (período de referência ou nas três semanas anteriores) para encontrar um emprego remunerado ou não. Consideram-se como diligências: a) contacto com um centro de emprego público ou agências privadas de colocações; b) contacto com empregadores; c) contactos pessoais ou com associações sindicais; d) colocação, resposta ou análise de anúncios; e) realização de provas ou entrevistas para seleção; f) procura de terrenos, imóveis ou equipamentos; g) solicitação de licenças ou recursos financeiros para a criação de empresa própria. O critério de disponibilidade para aceitar um emprego é fundamentado no seguinte: a) no desejo de trabalhar; b) na vontade de ter atualmente um emprego remunerado ou uma atividade por conta própria caso consiga obter os recursos necessários; c) na possibilidade de começar a trabalhar no período de referência ou pelo menos nas duas semanas seguintes. Inclui-se o indivíduo que tem um emprego, mas só começa a trabalhar em data posterior à do período de referência até ao prazo limite de três meses, findo o qual passa a ser considerado inativo.

Inativo

Indivíduo que, independentemente da sua idade, no período de referência não podia ser considerado economicamente ativo, isto é, não estava empregado, nem desempregado.

Emprego Significativo

No âmbito deste módulo ad hoc considera-se emprego significativo aquele com uma duração superior a três meses, podendo ser enquanto trabalhador por conta de outrem, trabalhador por conta própria ou como trabalhador familiar não remunerado. A contabilização da duração do trabalho deve ser para o mesmo empregador, independentemente de qualquer mudança de funções ou características desse trabalho (Oliveira, 2016).

Educação Formal

Educação ou formação ministradas em instituições de educação ou formação, em que a aprendizagem é organizada, avaliada e certificada sob a responsabilidade de profissionais qualificados. Constitui uma sucessão hierárquica de educação ou formação, na qual a conclusão de um dado nível permite a progressão para níveis superiores.